Thursday, December 01, 2005

O equilíbrio instável da vida

Copérnico, no século XV, afirmou que a Terra não era o centro do universo, sendo na verdade mais um planeta a girar em torno do Sol. Isso foi somente o começo de uma grande revolução, a ser levada adiante pela ciência moderna, que começou a derrubar o homem de seu pedestal de senhor do universo. Foi o início do fim do chamado antropocentrismo. Hoje sabemos que o sol é uma estrela média, apenas uma das aproximadamente 100 bilhões de estrelas que formam esse sistema espiral que forma a nossa galáxia, chamada Via Láctea. Para aumentar ainda mais nossa insignificância, há pelo menos mais 100 bilhões de galáxias, somente no nosso universo visível.
Apesar dessa aparente insignificância, nós humanos não conhecemos efetivamente nenhum outro mundo tal como o nosso. Sem dúvida não ocupamos um lugar tão ordinário no cosmos. Nosso planeta está localizado numa órbita estável a uma distância perfeita do sol, de modo que a matéria orgânica, tão sensível a temperaturas extremas possa subsistir. Nosso sol também é uma estrela relativamente perfeita, pelo fato de ser solitária e estável.

Mesmo ter planetas não é a regra: observações mostram que somente 3% das estrelas do tipo do sol possuem planetas. Aparentemente uma série de felizes coincidências faz possível a nossa existência. De fato, a tranqüilidade do nosso mundo é uma exceção e não a regra no cosmos. Não somente o planeta Terra possui uma posição privilegiada no sistema solar, mas tudo indica que também o nosso Sol está numa localização especial na Via Láctea. Astrônomos definem hoje o que se chama de zona habitável da galáxia, como sendo um anel em torno do núcleo, no qual planetas habitáveis poderiam existir. Estrelas situadas em uma região mais afastada do núcleo da galáxia não podem ter planetas , pois elas contêm poucos metais. Mais perto do núcleo, as estrelas até poderiam gerar planetas com freqüência, por terem mais metais. No entanto, a chance de choque de estrelas é maior e grande parte delas não leva uma vida solitária, e sim possuem companheiras.

Sistemas de estelares duplos, triplos ou múltiplos não são adequados para a vida num planeta . Sua órbita seria instável e caótica, sujeita a radiações que emanam da interação entre elas. Um planeta que orbitasse um sol mais próximo ao núcleo da Via Láctea estaria sujeito também às intensas radiações resultantes de violentas explosões de supernovas e também aos repentinos surtos de radiação gama, cuja origem exata ainda é desconhecida. Se o Sol estivesse localizado mais próximo ao núcleo de nossa galáxia, a Terra estaria sujeita a uma grande freqüência de choques com cometas, e instabilidades de órbita, e aos efeitos do grande buraco negro que está no centro. Embora as observações indiquem que ele esteja relativamente quieto, provavelmente por já haver devorado boa parte da matéria que o circundava, de tempos em tempos ele se desperta quando engole uma estrela. Ao cair no buraco negro do centro galáctico, a matéria é acelerada a velocidades altíssimas, o que gera jatos de radiação que poderiam pulverizar ou esterilizar sistemas planetários mesmo distantes.
Nossa Via-Láctea também é privilegiada para nós. Tal sossego e estabilidade, necessários para o desenvolvimento da vida, só são possíveis em galáxias do tipo espiral, onde o movimento das estrelas se dá de forma harmônica de ordenada. Tal paz poderá não ser duradoura. Em aproximadamente três bilhões de anos a galáxia Andrômeda estará se encontrando com a Via Láctea, o que poderá deslocar as estrelas de suas órbitas e também dar ignição ao buraco negro central, com desastrosas conseqüências para a vida.

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